Reflexão Litúrgica sobre as Cores do Advento e o Domingo Gaudete.


DIOECESIS SANCTI SALVATORIS IN BRASILIA

Reflexão Litúrgica sobre as Cores do Advento e o Domingo Gaudete.

Chanceler da Cúria Diocesana de Salvador
Coordenador da Pastoral Litúrgica
Rev.mo Diác. Rosemberg Araújo

ANO JUBILAR 2025
"A ESPERANÇA QUE NOS RENOVA"

1. Introdução

A sagrada liturgia, expressão da lex orandi, lex credendi, é uma verdadeira pedagogia espiritual. Também por meio das cores, a Igreja conduz os fiéis à contemplação do mistério de Cristo. Elas não são detalhes estéticos, mas sinais que orientam o coração para Deus, conforme recorda a Sabedoria: “Se, fascinados por sua beleza, tomaram as criaturas por deuses, reconheçam quanto o Senhor delas é superior, porque as criou o autor da beleza” (Sb 13, 3).
O Advento, iluminado por esta sabedoria, é um tempo em que a própria liturgia educa os olhos e o espírito para acolher o Senhor que se aproxima.

2. A sobriedade do Advento e o uso do roxo

O Advento é tempo de expectativa e vigilância, no qual a Igreja contempla a vinda histórica do Senhor no mistério do Natal e sua vinda gloriosa no fim dos tempos.
Por isso, predomina a cor roxa, sinal de recolhimento e de conversão. Ela conduz à interioridade, desperta a consciência do caminho a percorrer e molda o coração para receber o Salvador. A sobriedade do roxo prepara o terreno para que outras cores, quando aparecerem, se tornem ainda mais eloquentes.

3. O Domingo Gaudete: um convite litúrgico a usar o rosáceo

No terceiro domingo do Advento, a Igreja celebra o Domingo Gaudete, cuja antífona de entrada proclama: Gaudete in Domino semper — “Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fl 4, 4).
Neste dia, a liturgia introduz a cor rosácea, usada pouquíssimas vezes ao longo do ano, como suave irradiação de alegria dentro da austeridade do Advento.
É fundamental sublinhar que o rosáceo é a cor própria do Domingo Gaudete. Ele não é opcional na doutrina, mas opcional apenas enquanto disponibilidade material. Quando a paróquia dispõe da cor, deve usá-la, pois a Igreja deseja visivelmente expressar essa alegria que brota da proximidade do Senhor.
O rosáceo é um anúncio silencioso, porém poderoso: Cristo está perto.
Ele transforma a penitência, sem a negar; ilumina o roxo, sem o substituir; manifesta a alegria que nasce da esperança cristã.
Todo este texto, em sua estrutura, é justamente um chamado fraterno aos ministros ordenados a resgatar, valorizar e usar com fidelidade a cor rosácea neste domingo tão peculiar. É um gesto simples, mas de grande força catequética, que educa e move o coração dos fiéis.

4. As velas do Advento e o mistério da luz

A tradição devocional das quatro velas do Advento, embora não faça parte diretamente do Missal, ajuda a mostrar o avanço da luz que se aproxima.
A terceira vela, frequentemente rosácea, acompanha o espírito do Gaudete: a luz cresce, a esperança floresce, e a Igreja se alegra porque o Senhor já desponta no horizonte.
Este gesto ilumina a fé e recorda que a liturgia não é mero simbolismo, mas caminho concreto que conduz à conversão e à alegria verdadeira.

5. O Advento e Maria: a Mãe na espera do Filho

O Advento sempre possui um perfume mariano. É o tempo que recorda espiritualmente a Anunciação, quando Maria recebeu, na humildade de Nazaré, a mensagem que transformaria a história da salvação.
Nela, toda espera se converte em acolhida, e toda confiança se transforma em fecundidade espiritual.
Por isso, Santo Afonso Maria de Ligório ensina: “Se desejamos a graça e queremos encontrá-la, devemos buscá-la pelas mãos de Maria.” (Glórias de Maria, II, III).
Sua presença no Advento é discreta, mas essencial: ela nos ensina a vigiar, a esperar e a alegrar-nos com a proximidade de Cristo.
Assim como aquela mulher que gastou tudo para ungir o Senhor com mirra preciosíssima, também nós somos chamados a oferecer a Cristo o melhor de nossas paróquias, de nossos cuidados litúrgicos e de nosso zelo ministerial.

6. Conclusão: um apelo fraterno

Que este texto sirva como um chamamento pastoral claro e fraterno:
Usemos o rosáceo no Domingo Gaudete, quando for possível. 
Restituamos à liturgia sua força simbólica e catequética.

O roxo educa.
O rosáceo alegra.
E o Advento nos conduz ao Cristo que vem, nossa verdadeira luz.


“Alma Redemptoris Mater, quae pervia caeli porta manes, et stella maris, succurre cadenti, surgere qui curat populo. Tu quae genuisti, natura mirante, tuum sanctum Genitorem: Virgo prius ac posterius, Gabrielis ab ore sumens illud Ave, peccatorum miserere.”


Rev.mo Diác. Rosemberg Araújo
Servidor do Evangelho e da Sagrada Liturgia