DIOECESIS SANCTI SALVATORIS IN BRASILIA
Reflexão Litúrgica sobre as Cores do Advento e o Domingo Gaudete.
Rev.mo Diác. Rosemberg Araújo
1. Introdução
A sagrada liturgia, expressão da lex orandi, lex credendi, é uma
verdadeira pedagogia espiritual. Também por meio das cores, a Igreja
conduz os fiéis à contemplação do mistério de Cristo. Elas não são
detalhes estéticos, mas sinais que orientam o coração para Deus,
conforme recorda a Sabedoria: “Se, fascinados por sua beleza,
tomaram as criaturas por deuses, reconheçam quanto o Senhor delas é
superior, porque as criou o autor da beleza” (Sb 13, 3).
O Advento, iluminado por esta sabedoria, é um tempo em que a
própria liturgia educa os olhos e o espírito para acolher o Senhor
que se aproxima.
2. A sobriedade do Advento e o uso do roxo
O Advento é tempo de expectativa e vigilância, no qual a Igreja
contempla a vinda histórica do Senhor no mistério do Natal e sua
vinda gloriosa no fim dos tempos.
Por isso, predomina a cor roxa, sinal de recolhimento e de
conversão. Ela conduz à interioridade, desperta a consciência do
caminho a percorrer e molda o coração para receber o Salvador. A
sobriedade do roxo prepara o terreno para que outras cores, quando
aparecerem, se tornem ainda mais eloquentes.
3. O Domingo Gaudete: um convite litúrgico a usar o rosáceo
No terceiro domingo do Advento, a Igreja celebra o Domingo Gaudete,
cuja antífona de entrada proclama: Gaudete in Domino semper —
“Alegrai-vos sempre no Senhor” (Fl 4, 4).
Neste dia, a liturgia introduz a cor rosácea, usada pouquíssimas
vezes ao longo do ano, como suave irradiação de alegria dentro da
austeridade do Advento.
É fundamental sublinhar que o rosáceo é a cor própria do Domingo
Gaudete. Ele não é opcional na doutrina, mas opcional apenas
enquanto disponibilidade material. Quando a paróquia dispõe da cor,
deve usá-la, pois a Igreja deseja visivelmente expressar essa
alegria que brota da proximidade do Senhor.
O rosáceo é um anúncio silencioso, porém poderoso: Cristo está
perto.
Ele transforma a penitência, sem a negar; ilumina o roxo, sem o
substituir; manifesta a alegria que nasce da esperança cristã.
Todo este texto, em sua estrutura, é justamente um chamado fraterno
aos ministros ordenados a resgatar, valorizar e usar com fidelidade
a cor rosácea neste domingo tão peculiar. É um gesto simples, mas de
grande força catequética, que educa e move o coração dos
fiéis.
4. As velas do Advento e o mistério da luz
A tradição devocional das quatro velas do Advento, embora não faça
parte diretamente do Missal, ajuda a mostrar o avanço da luz que se
aproxima.
A terceira vela, frequentemente rosácea, acompanha o espírito do
Gaudete: a luz cresce, a esperança floresce, e a Igreja se alegra
porque o Senhor já desponta no horizonte.
Este gesto ilumina a fé e recorda que a liturgia não é mero
simbolismo, mas caminho concreto que conduz à conversão e à alegria
verdadeira.
5. O Advento e Maria: a Mãe na espera do Filho
O Advento sempre possui um perfume mariano. É o tempo que recorda
espiritualmente a Anunciação, quando Maria recebeu, na humildade de
Nazaré, a mensagem que transformaria a história da salvação.
Nela, toda espera se converte em acolhida, e toda confiança se
transforma em fecundidade espiritual.
Por isso, Santo Afonso Maria de Ligório ensina: “Se desejamos a
graça e queremos encontrá-la, devemos buscá-la pelas mãos de Maria.”
(Glórias de Maria, II, III).
Sua presença no Advento é discreta, mas essencial: ela nos ensina a
vigiar, a esperar e a alegrar-nos com a proximidade de Cristo.
Assim como aquela mulher que gastou tudo para ungir o Senhor com
mirra preciosíssima, também nós somos chamados a oferecer a Cristo o
melhor de nossas paróquias, de nossos cuidados litúrgicos e de nosso
zelo ministerial.
6. Conclusão: um apelo fraterno
Que este texto sirva como um chamamento pastoral claro e
fraterno:
Usemos o rosáceo no Domingo Gaudete, quando for possível.
Restituamos à liturgia sua força simbólica e catequética.
O roxo educa.
O rosáceo alegra.
E o Advento nos conduz ao Cristo que vem, nossa verdadeira
luz.

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